domingo, 6 de julho de 2008

ausência de cor

O sangue circulava rápido dentro daquele corpo como se procurasse um fresta para escapar do circuito rotineiro. Queria jorrar, manchando toalhas, cortinas, lençóis... Queria mostrar ao mundo que existia, queria chorar vermelho para que lhe levassem a sério.

Porque até mesmo seu corpo entendia que as lágrimas de água salgada não surtiam mais efeitos. Não que ela quisesse causar pena. Queria somente que alguém se importasse, que compartilhasse sua dor, que lhe ajudasse a gritar. As coisas haviam se tornado tão tristes que nem sua voz mais tinha coragem de dar o ar da graça. O silêncio havia tomado conta dela, de seu corpo e de todos os cômodos daquela casa que agora parecia tão misteriosa.

O que havia acontecido? O pior. A única coisa que pode destruir a vida de um homem. Ela havia perdido a esperança. Isso porque se dera conta que nada daquilo tudo que havia um dia planejado, tinha dado certo. Nada à sua volta parecia no lugar correto, nada estava como o esperado. Até mesmo os móveis nos mesmos lugares de sempre agora causavam desconforto.

Aqueles que um dia acreditou estarem sempre do seu lado, tinham sumido. Percebeu que as pessoas mudam, mas nem sempre para melhor. As qualidades dos amigos tinham sumido e dado lugar a invejas, interesses, egoísmo, maldade. Sentia-se sozinha e não acreditava mais que ser boa e desejar o bem levasse a algum lugar. Era tanto o que tinha desejado de coisas positivas para os que estavam ao seu redor, e era tanta a indiferença destes com ela que não lhe restavam forças para tentar outra vez.

O sol passou a ser tão melancólico quanto a chuva. Os dias da semana passaram a ser tão tristes quanto os domingos. Todas as músicas tornaram-se nostálgicas e todos os filmes tornaram-se vazios. O mundo parecia ter parado de girar e seu coração ameaçava explodir a qualquer minuto.
Ela precisava de uma solução. Precisava. Já não suportava mais viver com tanta dor, tanta mágoa. Sentou-se então na pequena escrivaninha e escreveu. Escreveu na tentativa de deixar no papel tudo o que lhe assombrava. Escreveu na tentativa de tirar todo aquele peso das suas costas. Mas de nada adiantou. O dia havia passado e tudo o que restava era uma folha com palavras, três maços de cigarro vazios e um buraco cavado dentro do mundo onde ela se encontrava.

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